ou O que Charlie Sheen e Magic Johnson têm em comum?

Por Jurema Cintra Barreto – advogada e ativista do movimento de Luta contra AIDS


Tem uma semana que os sites de fofocas e TVs sensacionalistas norte-americanas não falam outra coisa que não seja sobre Charlie Sheen e a entrevista em que assumiu ser uma pessoa Soropositiva e estar vivendo com o vírus do HIV por cerca de 04 anos. Em 1991 o grande jogador de basquete na NBA Magic Johnson também assumiu publicamente sua sorologia detectada no momento crítico da AIDS, devido aos poucos recursos e tratamentos disponíveis. No Brasil a cara da AIDS nos remonta à década de 80 com Cazuza e Sandra Bréa, depois de suas mortes nenhuma pessoa pública declarou-se Positivo além de Betinho, o sociólogo e ativista. Claro que é um direito do cidadão o seu sigilo médico e sorológico, mas ao passo que ninguém fala da AIDS ou do HIV parece que ela está distante e os números mostram o contrário, principalmente pelo amento da contaminação entre os jovens que cresceu cerca de 35% segundo dados do Ministério da Saúde. A geração que se informa na internet, na TV e em redes sociais não viu e não vê a AIDS e não sobre ela. Nenhum de seus ídolos morreu de AIDS, não houve perdas em suas famílias ou na escola. Não existe desespero na televisão como era alardeado pela Globo. De certo que parte disso se deve ao fato do Acesso Universal e gratuito à medicação, assistência e prevenção do Governo Federal. Mas… O medo acabou? Muitos acreditam que a AIDS está controlada e que basta tomar “uns comprimidinhos” para não adoecer mas existem cerca de 734 mil casos notificados no país e para cada 1 pessoa detectada estima-se que existam 04 sem saber sua condição por falta de testagem. 24 anos depois de Magic Johnson, quando Charlie Sheen que é uma personalidade do cinema, de Hollywood, se expõe ao mundo e aos seus fãs, o recado é claro: AIDS existe, SOU A PROVA VIVA E VAMOS LUTAR JUNTOS. Em todo o mundo, no 01 de dezembro, dia que a ONU elegeu como o marco Mundial de Luta contra AIDS e a favor das pessoas que vivem com o vírus, minha ode a este ator corajoso e destemido. Como falei no início do texto ele está na capa de revistas de Fofoca e não em revistas de ciência ou política, por quê as loucas elucubrações de quem ele contaminou, como pegou e com quem andou estão tomando proporções surreais. Veja a série Vírus em 04 capítulos no Canal Porta dos Fundos uma inteligente e divertida sátira de um homem que procura quem lhe tenha contaminado com o HIV.

Não vejo nenhuma revista de Fofoca falar que alguém tem Hepatite C, Clamídia, Sífilis e quando alguém é diagnosticado com Câncer se faz correntes de orações coletivas e mensagens de apoio, mas a AIDS por ser um doença sexualmente transmissível também traz toda uma conotação Moral, e está no moralismo o grande entrave na luta contra a doença e a erradicação da transmissão. Com a medicação anti-retroviral é possível viver e ter qualidade de vida, mas a rotina é árdua, o ator revelou que estava sendo chantageado, então enfrentar o público foi a saída mais lógica e abre-se a discussão:  AIDS mata,preconceito e miséria também.

Conheça o Programa Brasileiro de AIDS, DSTs e hepatites Virais que é referência em todo mundo em http://www.aids.gov.br/   #partiuteste