Cronicazinha Concreta

Cronicazinha Concreta

Ou , sobre o exaustivo processo eletrônico

Por Jurema Cintra Barreto

advogada militante e capacitadora em processo digital


Cronicazinha   concreta

Conselhos para um jovem advogado em 1970:

Estudar, Ler, Formar-se em direito

Datilografar

Peticionar

Esperar intimação pelo oficial de Justiça

Ter dor de cabeça

Receber honorários

 

Conselhos para um jovem advogado em 1990:

Estudar, Ler, Formar-se em direito

Digitar

Protocolar

Esperar intimação pelo correio, ops!! Diário Oficial também

Ter enxaqueca e raiva

Receber poucos honorários

 

Conselhos para um jovem advogado HOJE

 

Estudar, Ler(“ctrl C” no Google), Formar-se em direito

Digitardigitardigitardigitardigitardigitardigitardigitardigitardigitardigitardigitardigitardi

Peticionar/postar/enviar/remeter/anexar

Plugar o Token

Abrir PJE de 1º grau

Abrir PJE de 2º grau

Abrir PJE de 3º grau

Abrir Projudi

Postar no e-SAJ

Ver e-proc

Ver e-STF

Ver e-STJ

Fazer downloads de processos

Ufaaaaa!!!!

Atualizar Java

Atualizar Mozilla

Atualizar Google Chrome

Atualizar conversor de PDF

Não esqueça do Internet Explorer

Desbloquear Plug-ins

 

 

IPhone na Mão

IPad na palma da mão

Macbook na ponta dos dedos

tum tum tum

(Rezar para Internet não c

a

i

r(suspirar))

 

Ver todas as intimações on-line que chegam ao mesmo tempo, AGORAAGORA

Responder os e-mails/posts/twetts/whatsApp dos clientes

Clicar o mouse milmilhõestrilhões de vezes para dar entrada em um única causa

ter Dor de cabeça e enxaqueca como amigas fiéis

ter LER, ter DORT, ter tendinite, ter bursite pra vida toda

E no fim ….. Receber pouquíssimos honorários
O velho e tranquilo Soares

O velho e tranquilo Soares

Crônicas de ITABUNA. por Jurema Cintra Barreto

O velho e tranquilo Soares parece que sempre esteve ali, na praça Olinto Leone, mais famosa como praça do Banco do Brasil. Era uma churrascaria com aquelas cadeiras vermelhas de cervejaria bem arranhadas pelo tempo. Bêbados diurnos, boêmios, idosos e jogadores do bicho se aglutinavam. Lá dentro, quase uma catacumba, era escuro e grande. A comida sempre foi boa, sabor e churrasco. Existiam aquelas figuras típicas que batiam o ponto lá, a boemia pode ser um trabalho árduo, presença constante, amizades a se descobrir e contas para pagar. Algumas coisas inconfessáveis já ocorreram lá, dizem as boas línguas dos amigos. Belo dia, dezenas de tapumes esconderam toda aquela confusão visual em pleno Centro. A churrascaria Soares dividiu-se em duas partes. Uma cinzenta loja de utilidades que fechou e agora é Pet shop. A modernidade tenta a todo custo acabar com a boemia através das mais ardilosas formas capitalistas de ser, colocar ração no lugar dos típicos e atípicos personagens urbanos, como pode? A salvação ainda era possível. Soares ressurge das cinzas, a outra metade dividida vira o restaurante à kilo da família, comida boa demais, o tempero e comida sempre foi bom, a questão era o ar de tumba descoberta do século XVII.

  
O velho e tranquilo Soares ainda está ali assando suas carnes, na grelha toda metida à chique ao invés daquele forno engordurado de outrora, mas ele está lá.

Suas filhas na cozinha, o suco de coco verde para nos lembrar que aqui é a Bahia, arquitetura leve. Parece como qualquer outro restaurante à kilo na cidade mas observando bem não é em todo lugar que podemos relembrar tantas histórias. Vou almoçar tarde e logo reconheço os saudosistas: aquele homem de cabelos brancos quase cinza tomando uma cervejinha na mesinha do canto. Vejo os olhares maledicentes e raivosos de algumas senhoras “da sociedade” que exprimem seu rancor, afinal onde estaria a moral da família itabunense? Vejo os familiares de Soares nestas tardes de almoços fora de hora. Vez em quando aquela senhora idosa, toda arrumadinha sendo paparicada, só pode ser a matriarca. Meu estômago sente, meu coração também. Avô, filha, netinho sapeca, funcionários atenciosos e amorosos com a esquisitona das duas da tarde. Pergunto logo se sobrou alguma coisa para mim. Logo vem os sorrisos. A praça continua lá com suas folhas secas no chão.

Fast Foods e a dominação das crianças- a obesidade anunciada

Fast Foods e a dominação das crianças- a obesidade anunciada

Tem tempo que uma amiga querida e professora me falou sobre um documentário interessante e protelei anos para ter a curiosidade de parar e assistir realmente.  NOSSAAAAAAA!!!! Inspirada em Maísa “Meu mundo caiu”. Nunca gostei de Mac, Bobs, Hut, Burguer King, Taco Bell, enfim, essas comidas pavorosas,  só o cheiro de fritura e óleo rançoso já me afasta de logo.

Ao saber que pessoas nos Estados Unidos estavam processando a MacDonald´s pela sua obesidade um diretor e sua equipe decidem fazer o  documentário “Super Size Me” . Em Português Tamanho Super- Jumbo ou  A Dieta do Palhaço.

Durante 30 dias, Morgan Spurlock teria de cumprir as seguintes regras:

Regra 1-comer suas três refeições(café, almoço e janta) exclusivamente no MacDonald´s , até água mineral, só poderia ser comprada lá;

Regra 2– Deveria provar todo cardápio, variando entre as opções disponíveis;

Regra 3– Sempre que o caixa voluntariamente oferecesse o tamanho Super Size(Tamanho Gigante) ele deveria aceitar;

Regra 4– Não fazer exercício e ter uma vida sedentária, caminhando no máximo 3.000 passos como a maioria dos obesos norte-americanos.

Antes do desafio Morgan se consulta com médicos especialistas como cardiologista, gastroenterologista, clínico geral, nutricionista, realizou uma bateria imensa de exames, enfim, sua saúde era perfeita.

Passados os primeiros 10 dias os resultados são surpreendentes, pois fígado alterado, função cardíaca, colesterol alto , triglicerídeos alto, hiperglicose, tudo, tudo estava comprometido, os médicos se impressionaram que  a combinação de gordura(sanduíches e frituras) e açúcar(refrigerantes) fosse tão agressiva neste pequeno espaço de tempo. É alarmante pensar que muitos norte-americanos e até brasileiros, comem cerca de 2 ou 3 vezes na semana em fast foods!!

Neste período de 30 dias são realizadas várias entrevistas, com advogados, nutricionistas, médicos, lobistas da indústria alimentícia norte-americana, gestores escolares, merendeiras e as falas são surpreendentes. A única empresa que se recusou em falar no filme foi a própria MacDonald´s.

Um dos experimentos mais interessantes foi quando Morgan apresenta 3 fotos para crianças entre 7 e 8 anos, a 1ª foto de George Washington, ex-presidente dos EUA que está na nota do dólar, uma única criança o reconheceu, a 2ª foto de JESUS CRISTO, nenhuma reconheceu, mas a imagem do palhaço Ronald MacDonald´s era reconhecida imediatamente, subitamente, sem titubear por todas as crianças e com sorrisos lindos. Foi tema na prova do ENEM 2014 a publicidade infantil, estima-se que uma criança nos EUA assista cerca de 5.000 à 10.000 anúncios de alimentos por ano, é muita mensagem subliminar e mensagens diretas pesadas para os pequenos. Crianças dependentes de açúcar e  gordura, adultos dependentes e obesos. EUA é o país dos obesos mórbidos e o Brasil também está engrossando essas estatísticas.

O filme “Super Size Me” está disponível no Youtube em versão dublada ou legendada e depois de chegar ao final nossa visão sobre alimentação em fast foods, a famigerada comida rápida de shopping center com alimentos processados, muda radicalmente. Sinto uma dor na alma quando vejo no horário do almoço crianças comendo no MacDonald´s incentivadas por seus pais, servidas de porções cada dia maiores. Assistir este filme é uma catarse que muitos e muitas precisam fazer.

Temos em nosso país uma riqueza de alimentos, verduras, legumes, frutas  endêmicas e únicas como a jabuticaba, mangaba, pitomba. Temos uma agricultura familiar fortalecida a cada dia, e assim inovar na alimentação, experimentar os sabores e saberes culinários do Brasil e de outra culturas, valorizar alimentos frescos, orgânicos, agroecológicos não é “coisa de vegetariano chato”, é coisa de quem quer ficar vivo e ter saúde para experimentar ainda mais as maravilhas do mundo. Fast Food´s para quê mesmo?

 

 

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=97zYlRudGS8