IBICOARA – Chapada Diamantina ainda inexplorada

IBICOARA – Chapada Diamantina ainda inexplorada

Já falei em outros artigos que eu sou da Chapada Diamantina, nasci em Seabra e há 20 anos estou em Ilhéus, vim estudar Direito e virei papa-jaca de coração e até título de cidadã de Itabuna já recebi.

Pois bem, a Chapada Diamantina é imensa. Nem pense que 1 viagem você terá um panorama, e o legal é isso , saber que dá para voltar várias vezes e fazer coisas absolutamente diferentes.

Esse ano meus primos foram meus guias. Convite para ir em Ibicoara. Confesso que eu nem sabia onde tava no mapa, quando eu digo que é imensa, é imensa mesmo.

Mas já tinha visto umas fotos da Cachoeira do Buracão. Fui no escuro. Pesquisei no Instagram e quase nada aparecia. Que mistério era esse???? hoje com internet, tudo está tão exposto… então fomos. Vou separar este artigo em CAMINHOS(deslocamento), PASSEIOS e DICAS básicas.

CAMINHOS PARA IBICOARA

Como disse , estávamos em Seabra e de caminhonete. Isto facilitou nossas vidas. Fomos até Palmeiras, na placa que tem Capão esquerda, você vira à direita, sentido Guiné.

Ô viagem linda, vamos acompanhando a serra do Sincorá, tangenciando-a, é bonito demais. Mas é estrada de terra e se chover, estar numa caminhonete ou carrinho mais valente é fundamental, tipo Uno, Gol. Ver a previsão do tempo érelevante.

Depois chegamos na estrada asfaltada de novo (BA 142) e seguimos as placas. Deu umas 3 horas de viagem , contando paradas .

Se você vai chegar de avião em Lençóis, pode fazer vários passeios ao redor da cidade e depois alugar um carro ou seguir com alguma agência de turismo que faz Cachoeira do Buracão Bate-volta. Indico sinceramente que você vá e durma alguns dias em Ibicoara.

Chegando pelo AEROPORTO DE VITÓRIA DA CONQUISTA me parece a melhor opção. Alugando um carro são apenas 3 horas de viagem em estrada tranquila e vazia. Alguns buracos apenas. é O LADO SUDOESTE da Chapada. Dá para fazer Itaetê, Iramaia, Mucugê, Andarái, Ibicoara, fugindo um pouco do circuito Lençois/Palmeiras/Capão/Iraquara.

Quem estiver no modo econômico tem ônibus saindo todos os dias de Vitória da Conquista para Ibicoara pela Empresa Emtram, custa 22,89 e são 04:30 de viagem,mas vejam os horários.

De Salvador, são mais de 10 horas de viagem e ao que parece só tem ônibus 1 vez por semana da Emtram também.

No Site da empresa terá dificuldades, então a melhor certeza é comprando pessoalmente na rodoviária de Salvador a ida e volta.

Diante de todas estas questões, se você for sem carro terá de pagar mais caro às agências, é que recomendo chamar 3 amigos, alugar um carro e partir para Ibicoara, naquele clima de amizade maravilhosa, isto facilitará sua viagem. Deixa 1 vaga no carro para o guia.

Quem vem de outras cidades é olhar o Mapa e se planejar pelos locais asfaltados. Pergunte ao guia previamente contratado, ele sempre te ajudará neste planejamento.

PASSEIOS

Fizemos 4 cachoeiras e este é ponto forte do Município. Ibicoara não tem acervo arquitetônico, nem uma cidade badalada. É um local simples, de hábitos simples, uma pracinha , mas com um agronegócio potente (farei as críticas ambientais depois). Não terá badalação à noite, nem ruas histórias com casarões como Lençóis.

Confesso que de início achei furada e depois de 4 dias estou louca para voltar, naquela Chapada Diamantina autêntica, sem fake news, sem estrangeirismos, sem coisas para inglês ver, sem misticismos inventados ou importados. Aquele povo rural simples e desbravador. IBICOARA é uma pérola a ser descoberta.

Fizemos 4 cachoeiras em 4 dias e foi excelente, pois são passeios longos e cansativos, porém revigorantes.

Chegamos em Ibicoara às 11h. Um lanche reforçado na Padaria e seguimos para

CACHOEIRA do Rio Preto. Nível de Dificuldade Médio.

Trilha Curta 2,5 km, mas subidas e descidas puxadinhas.

Mato fechado em alguns trechos e um Poço só nosso. Inacreditável como você pode estar na alta estação, em pleno 27 dezembro e ainda assim o poço estar vazio, só você e seu grupo e mais ninguém. Isto é Ibicoara: exclusividade nos passeios. Locais pitorescos inexplorados, e tranquilidade no passeio.

Confesso que tô sem disposição para praia lotada e engarrafada como Ilhéus.

Segundo nosso guia, a trilha do Rio preto era um treino para Fumacinha. Acredite, ninguém está reparado para aquilo.

Fomos e voltamos da cachoeira do Rio Preto e de noite jantar na Pizzaria Terra Mater. Paixão a primeira vista, um casal fantástico que produz tudo de forma orgânica e sintrópica. Rúcula e manjericão colhidos na hora de fazer a pizza com massa integral, isto é LUXO para mim. E só soubemos deste cantinho escondido graças ao nosso guia Roney Turismo… ainda falarei mais dele.

Dormimos em Ibicoara, em casa alugada pelo nosso guia. Éramos 7 pessoas e saiu MUITO em conta o aluguel da casa super equipada.

Acordamos mais tarde, tomamos café na padaria, super barata e gostosa e seguimos para o BURACÃO.

CACHOEIRA DO BURACÃO

Chegamos 11 horas da manhã, pois arrumamos toda nossa bagagem no carro e fomos tomar café.

30 km de estrada de chão e chegamos no Buracão. Parque Municipal do Espalhado e só pode entrar com guia, 6 reais por pessoa.

Desde o início tudo lindo. Um caminho de pés de mangabas, tem coisa melhor que fruta silvestre co caminho da trilha??? . Balançava cada pé para cair o fruto doce.

Paradas estratégicas no caminho, fotos e o ponto máximo, local do rapel e ponto de fotos da Cachoeira do Buracão por cima. Surreal de lindo. Mágico.

O parque municipal tem banheiros na entrada, estacionamento montado e no caminho tem escadas interessantes que você desce de frente, diz a lenda que foi Santos Dumont que inventou aquele modelo.

Depois da última descida, o cânion de acesso ao buracão, ou vc atravessa por um pau atravessado pelos dois lados(pinguela), ou vai de colete nadando, tudo já está disponível lá, sem custos adicionais.

Surreal de lindo. Surreal as fotos. Surreal a energia daquele local.

Paramos para lanchar, armamos a tenda, digo canga, com frutas, farofa, pão, ovo, cenoura, beterraba, azeite, cebola, ralamos tudo, misturamos e todo mundo olhava a cena : “Buracão Gourmet”.

Desarmamos o circo e preparativos para retorno, parada na Cachoeiras das Orquídeas para banho e fotinhos lindas, segunda parada no Poço grande, no pôr-do-sol, coisa linda de ver e sentir.

Saímos de noite, no escuro e dormimos no Brejão na Pousada da Val, comunidade rural, bem perto da entrada da Cachoeira da Fumacinha. Foi providencial. Nosso guia conseguiu reservar tudo antes.

Chegamos no restaurante da VAL e tinha uma janta boa, muito apetitosa. Fartura, gostosura. Tudo bom e barato. Aquele carinho típico das comunidades rurais.

CACHOEIRA DA FUMACINHA

Dormimos bem na pousada da Val. Acordamos cedinho. Fumacinha tinha de ser café às 07:00 impreterivelmente.

Tudo corria bem. Chegamos na entrada da trilha, que era bem perto da pousada.

Início da trilha da Fumacinha- 18 km ida e volta

Juro que nos primeiros 30 minutos senti uma prostração, achei que não ia conseguir, quase desisti. Eu fiquei por último na fila de 09 pessoas. Tinha mais 1 casal de São Paulo com nosso grupo, acolhido pelo guia Roney.

Acho que o guia sentiu e me chamou para frente. Bem Atrás dele, tudo que ele fazia eu repetia sem pensar muito. E foi minha salvação.

A trilha é PESADA, nível difícil, muitos obstáculos, atravessar por pedras, subir em galho de árvore, raiz, pular, andar em pedra com limo, fazer pêndulo com o corpo.

Algumas paradas estratégicas para beber água e se banhar. Fizemos em 4 horas e 30 minutos. Confesso que eu devo ter atrasado o grupo e muito.

Mas também tivemos tempo de admirar as incríveis paisagens pelos paredões de pedra, pelo leito do Rio, pela Mata Atlântica fechada em pleno centro da Bahia.

Chegando na Fumacinha, a entrada é sinistra só de olhar. Tem de escalar, fazer pêndulo, se apoiar sem nenhuma segurança, é uma aventura surreal(palavra que vou repetir pois é a melhor definição). Eu nem acreditava naquilo, talvez se me contassem antes eu não teria ido. Ainda bem que não me contaram e que eu FUI. Não desista jamais. Daquelas aventuras de fazer 1 vez na vida.

MAS VALEU CADA IGNORÂNCIA MINHA. A Fumacinha é algo surreal, é alucinante, é desesperador, é “hollywoodiana”, é Avatar, é Bahia, é tudo de mágico. É quase indescritível. E se você desanimou pelas dificuldades que relatei , nem pensa nisso, abstrai e vem. Cada hora de esforço vale a pena para chegar ali.

Ibicoara – Cachoeira da Fumacinha. Foto @juremacintra Modelo @adrianebarretoo

ODE À FUMACINHA

Todo o cansaço vira torpor.

Toda angústia vira paixão.

Todo medo da caminhada vira excitação.

Todo calor do corpo vira alívio ao nadar no poço gélido.

Todo gelo vira descanso.

Toda ansiedade vira realização.

Chegar na Fumacinha é poético, virulento, romântico.

Por Jurema Cintra @juremacintra

Lanchamos lá. Rolou “Fumacinha Gourmet ” também.

Na Volta choveu e deu medinho, pois as pedras estavam lisas, escorregadias e aí quero falar do profissionalismo do nosso Guia Roney da RADICAL Chapada, o controle emocional, a experiência dele, o modo de agir e falar foi reconhecido por todos, na chegada fiz discursos e teve Palmas, merecidas .

Chegamos no carro já de noite, foi quase 1 hora de trilha no escuro, mas no ponto mais “light” digamos assim, por dentro da Mata , tudo plano. Levamos lanternas e a luz do celular ajudou também. Me lembro que na primeira hora do dia Roney falou:

-celulares carregados, em modo avião para não gastar a bateria???

Dito e certo, por isso uma lanterna faz diferença, dá trabalho segurar celular, andar de noite e ter cuidado durante a trilha, lanterna que pode pendurar é muito útil, ou aquela de cabeça. Andar no mato de noitinha, no entardecer é lindo, ouvir os bichos, e a luz da lua deixava o céu incrível, foi muito romântico.

Enfim chegamos ao carro, tomamos caldo de cana, depois um merecido banho, eu nunca tinha ficado tão suja numa trilha, a água saia preta, sem bucha de banho improvisei com a calcinha mesmo. Esfregava no corpo com sabão e saia sujeira demais, estava de corpo e alma lavada; a Val fez uma jantar perfeito com muita comida regional, Godó(cortadinho de bana dágua verde), cortadinho de palma, galinha caipira, comida dos deuses, ou melhor dos trilheiros amadores que desafiaram a Fumacinha e venceram.

CACHOEIRA DO VÉU DE NOIVA

Dormimos na comunidade de Brejão de Novo, na Pousada da Val, e foi ótimo, por que Véu de noiva é no mesmo caminho que Fumacinha, só que na Bifurcação seguimos para esquerda.

Encontramos 2 rapazes sem guia perguntando da Fumacinha às 10 da manhã. Ir sem guia na Fumacinha é uma LOUCURA que não recomendo nem para inimigo. Com chuvas, as pedras devem ter mudado de lugar, pensa só, não tem marcação, é muito difícil achar as passagens e entradas pela mata. Explicado isso eles retrocederam e os guias só recomendam começar a trilha no máximo 09 da manhã, pois não tem como voltar de noite, o caminho é longo e perigoso.

Seguimos para Véu de Noiva, bem mais light contudo havia desafio sim…

Cachoeira está no fim deste mini-cânion, chegamos nadando

Subir em árvore, se equilibrar, subidinha e tudo valeu para chegar no último Véu, sem ninguém, somente nosso grupo. O título do Artigo é: Chapada Inexplorada, então … NINGUÉM OU QUASE NINGUÉM, os caminhos são longos ou pelo menos escondidinhos e tá aí o segredo.

Poços para banho só nossos.Tranquilos, em paz, só ouvindo os pássaros e muita conversa boa com o grupo.

Contato com a natureza linda e preservada. Turismo comunitário e apoio à economia local, Isso é Ibicoara. Isso dá certo. Turismo predatório é um desastre, só exploração e descaracterização da cultura local, tô fugindo disso.

Encontramos 2 cobras cipó, eu morro de medo, o guia fotografou, fez selfie e mostrou com segurança ao grupo. Eu nem chego perto, tenho um asco. Mas é um bom sinal vê-la ali quietinha (não é venenosa), isso significa que a natureza tá equilibrada, ecossistema equilibrado, em harmonia; a cobra pode tomar sol e banho numa boa e se não mexer com ela , ela não mexe com ninguém.

NÃO Vou colocar foto de cobra em meu site, não… povo da Chapada adora história de cobra, vídeo de cobra, meu avô, meu pai, tios e amigos, não tem 1 ano para essas histórias não se renovarem, multiplicarem e aperfeiçoarem. Tem curiosidades sobre serpentes … conversa com os nativos da chapada … tem salvação isso não …

Como acordamos mais tarde, cansados da Fumacinha, tomamos café mais tarde, combinamos almoço(separado) na Val mais tarde também, deu 15:00 quando chegamos da Véu de Noiva e aquela FEIJOADA espertíssima prontinha.

Eu e Dona Val – comunidade de Brejão

Caímos matando na delícia e quem disse que deu coragem para subir para a Cachoeira do Licuri? Seria o último passeio do nosso roteiro.

Mudanças acontecem e tudo bem, todo mundo concordou que o cansaço bateu e veio a prostração depois do feijão.

Pegamos nossas malas (vejam que check-out tarde), tudo ali é negociado com a dona, então é fácil.

Deixamos a Pousada da Val, banhados, arrumadinhos e seguimos para o Mirante do Campo Redondo. Mermão … que visual era aquele….

Eu fique extasiada. Que fim de tarde lindo, pôr-do-sol fantástico. Fotos sensacionais e aquela sensação boa de ter deixado apenas pegadas.

Paradinha estratégica na Coxinha de Jaca com maionese caseira de ricota com ervas… ui… ui … eu viajo para comer mesmo ….

Paisagem de uma Chapada Diamantina autêntica, conservada e preservada pelos seus moradores e amantes.

Dormimos novamente na casa alugada, jantar de Pizza no Terra Mater, por que se é bom a gente repete.

No quinto dia, Acordamos, arrumamos carro, padaria para tomar café e comprar CAFÉ. Cafés finos, orgânicos, sintrópicos e da agricultura familiar de Ibicoara são sensação. Não tem um tour do café organizado mas o guia pode te mostrar. Na padaria tinha uma prateleira cheinha e nós nos acabamos. Trouxe café das alturas da Colômbia e não ia comprar na minha Bahia???? nas alturas???? … oxe, meu esposo adora café.

Partiu Seabra com a vontade de voltar para fazer Buracão de Novo que foi delícia demais. Voltar para Conhecer a Cachoeira do Licuri e mais umas 2 diferentes. Visitar os restaurantes escondidos e pousadinhas na estrada. Parar de cantinho em cantinho, placa por placa.

DICAS DE VIAGENS

Quero fazer um artigo mais detalhado sobre o que levar na mala para Ibicoara. Vejam como gosto de escrever, kkkkkkk, então seguem apenas sugestões que foram úteis para mim, claro que cada perfil de viajante tem necessidades diferentes.

  • Levar poucas roupas e aquelas apropriadas para trilhas e caminhadas;
  • Levar mochila bem leve para andar nas trilhas;
  • Usar Bota ao invés de tênis;
  • Lanterna;
  • Contratar Guia, até mesmo antes, para planejar os dias em cada cachoeira;
  • Dormir na Comunidade para fazer as trilhas da Fumacinha e Véu de Noiva com mais tranquilidade;
  • Ir de carro facilita sua vida, mas tem agências que organizam passeios coletivos;
  • comer comidas regionais;
  • comprar café de Ibicoara e região, além de ser gostoso e sustentável é um ótimo presente para amigos;
  • Levar dinheiro, lá só tem Bradesco e nem todo local aceitará cartão ou a internet pode estar fraca;
  • Olhar o tempo , sempre e sempre, nos aplicativos e sites ;
  • Respeitar a natureza deixando lá apenas pegadas e boas lembranças;
  • No Nosso Instagram @juremacintra tem muitos destaques salvos

Eu falei no nosso Guia inúmeras vezes né, então deixa eu fazer um merchan gratuito, eu pago todas as minhas viagens, então quando gosto de um serviço é por que foi bom MESMO e a pessoa dele me cativou. Turismo Honesto, comunitário, o Roney e sua esposa Keu(guia também) entendem tudo de Ibicoara e de turismo sustentável. O Instagram dele que tem fotos lindas é : Roney_ecoturismo e o Zap Zap para você fechar a viagem dos sonhos é : 077-981493344

Roney ecoturismo- meljor guia de Ibicoara

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